Conteúdo atualizado a 14/02/2024
Ela foi eleita uma das 50 pessoas mais influentes em cryptos no Brasil, vive de criptomoedas há mais de 7 anos e é a criadora do website Disruptivas. Sabe de quem estou falando? Rafaela Romano, claro!
Sempre com conteúdos interessantes no Instagram, vídeos com dicas muito úteis no YouTube e tópicos quentes no Twitter, Rafaela é A pessoa que você deve seguir se quer ficar bem informado (assim como o BR Cryptos!).
Normalmente é a Rafaela quem está no meu lugar, produzindo conteúdo para portais de notícias como Cointelegraph e para várias outras exchanges e fintechs, mas hoje é ela que será a protagonista para revelar segredos do mundo crypto no Brasil.
Tópicos de Conversa
Rafaela Romano, como você começou a se interessar por criptomoedas e investimentos? O que te motivou a criar conteúdo e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas nas redes sociais?
Eu sempre me identifiquei com o anarquismo e com a perspectiva de sociedades e comunidades que possam se formar e se manter sem coerção através de trocas voluntárias. Durante minha graduação e mestrado em antropologia, eu tive uma nova perspectiva sobre a questão. Eu descobri que na história da humanidade, realmente não temos casos de grandes sociedades que conseguem manter a descentralização.
Em toda literatura, quando as comunidades crescem, elas tendem à centralização. Quando eu conheci o Bitcoin, os cypherpunks e os mecanismos de consenso, pensei: caramba. Talvez seja a primeira vez na história da humanidade que possamos construir grandes comunidades e comunidades globais “anarquistas”. Em uma das referências citadas pelo Satoshi Nakamoto no whitepaper, há a seguinte frase:
“Estou fascinado pela criptoanarquia de Tim May. Ao contrário das comunidades tradicionalmente associadas à palavra “anarquia”, numa cripto-anarquia o governo não é temporariamente destruído, mas permanentemente proibido e permanentemente desnecessário. É uma comunidade onde a ameaça de violência é impotente porque a violência é impossível, e a violência é impossível porque os seus participantes não podem ser ligados aos seus verdadeiros nomes ou localizações físicas.’’
Então, minha motivação é a perspectiva de ser possível algo que acredito há mais de uma década, mas parecia que era ‘ ‘um sonho absurdo’’.
De antropologia para criptomoedas… O que é mais fácil de entender: os gráficos de velas ou o comportamento humano?
É curioso porque a economia faz parte da área das humanas e não das exatas. Dessa forma, os gráficos são na verdade um fenômeno social e não um fenômeno da matemática ou da físíca. A formação de preços é a soma exata do comportamento e das crenças humanas plotadas radicalmente na nossa frente. Então, o nível de complexidade é igual, visto que cada candle representa o agregado do comportamento dos humanos naquele time-frame.
A marca dos $100K por exemplo. Ela é uma marca social, representada pelos laser eyes. Pela crença coletiva. Pode haver mil justificativas. A transferência do AuM do ouro. A entrada dos institucionais. A erosão das economias dos países em desenvolvimento. Mas tudo isso não muda o fato de que o dinheiro é sempre, no final do dia, a soma da confiança dos indivíduos no que quer que seja que represente o dinheiro.
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O que aprendeu no seu mestrado tem utilidade para o que você faz hoje?
Felizmente, bastante. Minha primeira aula da graduação foi com uma professora incrível da área da antropologia econômica. Ela é conhecida por etnografar bolsas de valores e pensar no fluxo do dinheiro entre países. Durante o primeiro semestre, ela sorteou alguns livros para que lêssemos. O primeiro livro que tive que ler na faculdade era de um antropólogo anarquista que escreveu um livro lindíssimo chamado ‘‘A Sociedade Contra o Estado’’. Nesse livro, ele conta sobre os ‘mecanismos sociais’ de sociedades indígenas da América do Sul para se manter ‘sem poderes coercitivos’. Ele detalha como cada atividade, da caça às relações, eram estruturadas de forma a desincentivar a formação de centralização de poder.
Então, posso dizer que eu me apaixonei pela área de antropologia econômica desde o primeiro dia da graduação e passei 7 anos (graduação + mestrado) literalmente estudando sobre a história das sociedades e do dinheiro, desde as comunidades mais isoladas que temos conhecido, até os centros urbanos mais conectados do mundo.
Assim, quando eu conheci o Bitcoin, o ‘dinheiro’ pra mim já podia ser literalmente qualquer coisa. Grãos, ouro, conchas.. tudo. O ponto foi que o Bitcoin pareceu ser A MELHOR QUALQUER COISA dentre todas que eu soube que já existiram.
Aos jovens interessados em moedas digitais, que cursos você recomendaria?
Eu particularmente não indicaria um curso. Indicaria esse site: https://nakamotoinstitute.org/
Nele, há toda literatura cypherpunk clássica. Os posts e emails de Satoshi Nakamoto. Como os cursos tem normalmente um bom marketing e apelo. Vou fazer um apelo ao que normalmente ninguém quer ler, que são os fundamentos teóricos dos caras que desenvolveram os primeiros protocolos de dinheiro digital (os cypherpunks). Eu também ajudei a criar uma iniciativa para tradução dos artigos clássicos dos cypherpunks. quem tiver interesse: https://cypherpunks.com.br/
O mercado de criptoativos é conhecido por sua complexidade. Como você aborda a tarefa de tornar esses temas técnicos mais acessíveis para o público geral? Existem formatos que fazem mais sucesso? Como você planeja os seus vídeos?
Como eu iniciei por uma via muito técnica/fundamentalista, minha audiência sempre foi QUEM JÁ ESTAVA NO MERCADO. Até 6-7 meses atrás, minha base de seguidores basicamente era os donos das empresas de cripto, quem já estava há alguns anos.. os formadores do mercado e de opinião. Mas ano passado eu passei por uma mudança na minha abordagem e resolvi que era hora de falar com outras pessoas. Mas como eu não gostaria de parar de falar coisas que considero realmente interessantes e que muitas vezes são complexas, minha abordagem atualmente é pela via do humor. Eu tento fazer os vídeos serem divertidos, mesmo quando o assunto é técnico.
A educação financeira é essencial para qualquer pessoa que deseje investir não apenas em criptomoedas. Como você enxerga a importância de compartilhar informações sobre finanças pessoais e investimentos responsáveis em seus conteúdos? Você geralmente faz pesquisas prévias, analisa dados, ou vai reproduzindo informações de grandes veículos, mas sempre tecendo a sua opinião e esclarecendo para o seu público?
Esse ano vai fazer 8 anos que eu estou no mercado. Então há 8 anos de estudo agregado em qualquer coisa que eu vá falar hoje em dia. Nessa trajetória, eu já inclusive fui editora-chefe no Brasil de um dos maiores portais de criptomoedas que existe no mundo. Então meu trabalho historicamente foi gerenciar aqueles que criaram as informações para os grandes veículos. Dessa forma, alguns temas eu não preciso estudar pra comentar. Alguns por outro lado, me exigem semanas de estudo. Então varia um pouco. Mas acho que todos os dias independente de ser natal, ano novo, eu estar em casa ou na praia, eu acabo estudando sobre o mercado e cada post ou vídeo, reflete esse tudo ininterrupto.
Todo mundo sabe que investir em criptomoedas envolve riscos significativos. Como você procura alertar e conscientizar seu público sobre os riscos associados a esse tipo de investimento?
Existem diversos riscos. Alguns relacionados ao comportamento do investidor e sua inteligência emocional pra lidar com o mercado. Alguns são riscos de mercado e relacionados à macroeconomia. Outros são riscos de segurança.
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Eu sempre tento abordar os três tipos, mas principalmente os riscos de psicologia e segurança digital. Do lado dos riscos de comportamento, há as estratégias de criação de portfolio, de DCA… e eu tento ensinar isso sempre. E do lado de segurança, é realmente o que mais me preocupa porque há uma recompensa muito grande pros hackers. E é onde eu quero focar meu conteúdo. É o que mais me deixa paranóica e o que passo horas pensando e espero que eu possa tornar a jornada do investimento seguro, menos dolorosa para as pessoas.
A volatilidade do mercado de criptomoedas pode ser intimidante para investidores iniciantes. Que dicas ou estratégias você sugere para quem está começando a investir nesse mercado?
Acho que conhecer sobre o dollar cost average (DCA) é a melhor estratégia pra quase todo mundo. Compras fracionadas ao longo do tempo realmente ajuda que o investidor não entre numa super alta ou que venda em uma super baixa. Se você fraciona para comprar ou pra vender, você vai ajustando seu preço médio e dificilmente vai se colocar em uma ‘posição muito ruim’’.
Um segundo ponto: o importante é sobreviver para dar tempo para o aprendizado. Poucas pessoas sabem, mas o Warren Buffett e o Charlie Munger tinham um terceiro sócio que foi completamente liquidado durante uma queda brusca no mercado. O cara era tão bom quanto os dois em fazer dinheiro. Mas a alavancagem e a pressa impediram ele de lembrar do básico: O MAIS IMPORTANTE É SOBREVIVER.
Por isso, ficar hiper alavancado, colocar mais dinheiro do que pode arriscar e tudo isso, realmente não vale a pena em 99% dos casos. E sim, você pode ler 1, 2, 3 casos de pessoas que arriscaram tudo e venceram. Mas isso é notícia exatamente porque é exceção.
As redes sociais têm sido um meio poderoso para disseminar informações sobre criptomoedas e investimentos online. Como você avalia o papel das redes sociais na popularização desses conteúdos e no crescimento dos negócios relacionados a essas áreas?
Tem algumas pesquisas que mostram como youtube e instagram estão substituindo o Google como ‘search’. Ao invés de buscar informações via plataformas de indexação de links, as pessoas buscam os vídeos. Acho que o papel das redes sociais em cripto é o mesmo de qualquer setor: avassalador.
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Mas acho que as pessoas deveriam dedicar um tempinho pra consumir outros formatos de conteúdo e conteúdo em outros tipos de plataformas. Fóruns como o Bitcointalk são OURO pra investidores cripto.
E quando as redes sociais atrapalham? Por exemplo, os falsos testemunhos de YouTubers com promessas de riqueza instantânea ou os boatos no Twitter que disparam ou fazem cair o preço de determinadas moedas. Como é que um jovem navega por esse complexo mundo de criptomoedas nas redes sociais?
Acho que com os conselhos das avós e expertise dos santos: Quando a esmola é demais o santo desconfia. Se parece bom demais, só existem duas opções: o risco é muito alto ou é uma cilada Bino.
A comunidade de criptomoedas é diversificada e apaixonada. E as redes sociais, um universo de pessoas desconhecidas. Como você lida com críticas e comentários negativos, enquanto mantém um ambiente positivo e informativo em suas plataformas?
Taleb tem uma passagem em um dos livros dele que diz ‘‘Se quer me ajudar com meu livro, fale mal dele.’’ No geral, os haters são pessoas engajadas que sempre geram mais engajamento, o que pro influencer acaba sendo ótimo. Se pensarmos na Betina, em Backes ou em qualquer caso como esse, de pessoas que são amadas e odiadas. Betinas e Backers estão super bem. Em termos pragmáticos, críticas continuam sendo engajamento.
Hoje eu recebi esse comentário SUPER SIMPÁTICO e resolvi fazer as contas kkkk
— Rafaela Romano (@hi_disruptivas) January 2, 2024
R$ 1.5K por LENTE DE DENTE (coisa que até recentemente eu nem sabia que existia).
32 dentes, daria 0.217 BTC
Acham que eu devo trocar #Bitcoin por dentes novos? kkkkkk pic.twitter.com/diAIfULHWT
Aí tem o lado ‘pessoal’. Ninguém é de ferro. Mas eu realmente tento não absorver. Ou usar pra algo que seja bom pra mim. Um exemplo foi um vídeo que fiz chamado ‘Devo trocar Bitcoins por dentes novos?’’ Mais de uma vez já tinham comentado que meus dentes eram tortos. Então aproveitei o tópico pra fazer um vídeo engraçado que inclusive deu super certo. Um amigo da escola havia ido almoçar com a mãe dele e ele disse que a mãe dele tinha adorado o vídeo.
É comum que os influenciadores sejam abordados por projetos e empresas que desejam promover suas criptomoedas ou soluções blockchain. Como você seleciona parcerias e projetos para garantir a credibilidade do conteúdo que compartilha?
Eu tenho pouquíssimos conteúdos patrocinados. No meu youtube não tem nenhum. No instagram, dos +400 vídeos, apenas 2 são patrocinados. Eu sempre busquei fazer dinheiro de outra forma. Como comentei eu só comecei a produção conteudo de forma sistemática há 6 meses. Atualmente eu tenho alguns parceiros ‘ideais’ em mente, relacionados a coisas importantes para investidores de cripto (ferramentas de gráfico, antivírus, VPN..) coisas que precisamos ter como investidores de criptomoedas, mas que não estão diretamente relacionadas com custódia ou indicações de projetos. Espero seguir por esse caminho.
Pode deixar três dicas para quem está iniciando seu percurso como investidor de criptomoedas?
- Aprenda sobre DCA
- Aprenda sobre auto-custodia
- Gaste menos do que você ganha e NÃO alavanque.
Por fim, considerando o rápido avanço tecnológico e a evolução constante das criptomoedas, como você se mantém atualizada e preparada para oferecer conteúdo relevante e preciso para seu público?
Eu leio e estudo todos os dias. Desde portais, grupos, fóruns, BIPs.
PERGUNTAS FLASH
Se você pudesse escolher uma criptomoeda para ser a mascote de um time esportivo, qual seria e por quê?
O projeto Stepn, que tem os tokens GST & GMT porque é um projeto que incentiva o exercício físico.
Qual foi o momento mais estranho ou inusitado que você já presenciou no mundo das criptomoedas?
Não sei se é estranho ou inusitado. Mas lembrei de dois momentos.
- Um deles foi no fork do Bitcoin Cash, onde eu ainda não havia entendido – e ninguém na verdade sabia das consequência do fork da forma como estava sendo feito- e eu fiquei bastante assustada e resolvi ficar fora do mercado por medo de perder meus fundos. E no final perdi a ‘duplicação’ dos fundos e não recebi Bitcoin Cash.
- Segundo, foi um momento tenso. Anos atrás, eu estava SUPER ALAVANCADA. E o Bitcoin começou a cair MUITO e eu me desesperei. Vendi na queda. Ai do nada começou a subir e eu comprei. E perdi muito dinheiro nessa ‘violinada’ e também gastei muito dinheiro em taxas nesse dia. Foi um dia péssimo que me fez NUNCA MAIS ficar alavancada em nada na vida.
O que você compra com criptomoedas?
Eu sempre gostei da ideia de comprar coisas com criptomoedas. Em 2017 eu fiquei MALUCA com isso e tentava comprar QUALQUER COISA. Mas na época, saiu uma notícia ‘rede/estabelecimento X está aceitando Bitcoin “. Eu ia lá, e ninguém sabia de nada. Eu consegui pagar alguns jantares e drinks. Mas depois dessa minha ‘saga’ frustradíssima, eu desanimei um pouco e foquei mais no Bitcoin como reserva de valor. Com o tempo, a situação melhorou muito e hoje já não é mais um sofrimento.