Conteúdo atualizado a 25/10/2023
Antídio Souza é sócio fundador do CriptoJur, o maior portal de conteúdos cripto- jurídicos, que nos ajuda a entender muitas dúvidas relacionadas com direito e criptomoedas com um percurso baita interessante, prestando adequação jurídica de negócios Cripto e Blockchain.
Ora, como não nos cansamos de ter boas perspectivas, decidimos convidá-lo a falar ao nosso portal e ele, amavelmente, aceitou. Siga a conversa nas linhas abaixo e junte-se a nós em mais uma entrevista exclusiva.
Perguntas
Br Cryptos: Como surgiu a ideia de criar o CriptoJur?
Antídio Souza: Pergunta bem interessante. O CriptoJur nasceu, na verdade, de uma necessidade pessoal minha e dos outros fundadores. Como à época já estávamos imersos nos estudos sobre as implicações jurídicas da tecnologia blockchain e dos criptoativos, e dada a relevância do tema, começamos a produzir artigos para publicação em grandes portais do Direito. Porém, nos deparamos certa resistência em relação à aprovação dos artigos, e não conseguíamos publicá-los. Como considerávamos relevante o que tínhamos a dizer, principalmente para empreendedores e investidores, começamos a pensar em alternativas para publicação dos artigos. Foi então que tivemos a ideia: ‘’Se não conseguimos publicar nossos artigos nos portais tradicionais, vamos criar nosso próprio portal para divulgar nossos textos.’’ E assim nasceu o CriptoJur.
Quais os principais desafios que enfrentou no desenvolvimento desse projeto?
AS: Os principais desafios foram a falta de recursos no início e também a falta de visão sobre a magnitude do que estávamos construindo.
Tanto eu quanto os outros fundadores estávamos na fase inicial das nossas carreiras profissionais, e por conta disso não tínhamos capacidade financeira para investir na criação de um site bem feito e estruturado. Para se ter ideia, eu mesmo fiz o site utilizando um modelo que encontrei no Canva. Os artigos ficavam posicionados em uma das dobras da página, com o título, uma imagem e um hyperlink. Ao clicar no título, os leitores eram redirecionados para um documento PDF dentro de uma pasta no meu Google Drive, já que eu não tinha expertise para criar um site como deve ser e também não tínhamos recursos para contratar um profissional para fazer. Nosso foco era tirar a ideia do papel, então fizemos da forma que conseguimos, mesmo que não fosse a ideal.
Sobre a falta de visão, como o CriptoJur foi criado num primeiro momento para resolver uma dor nossa, como autores, não tínhamos muita noção da relevância que um portal como esse poderia ter, e de que havia uma demanda de mercado que transcendia a nós mesmos. Apesar de haver vários portais relevantes de notícias e conteúdo sobre criptoativos e blockchain, não havia nenhum especializado em conteúdo cripto-jurídico, e isso era uma oportunidade de negócio.
A ajuda para superarmos esses dois desafios veio através de uma parceria que fizemos com a comunidade LegalBlocks. A partir daí o CriptoJur mudou de patamar, deixando de ser um projeto para ser um verdadeiro negócio, com um site bem estruturado, publicações de vários autores e parcerias com grandes empresas do mercado cripto.
Quais as melhores recompensas que retira do CriptoJur?
AS: Existem várias, mas eu gostaria de citar três que considero como sendo as principais. A primeira é poder conhecer e estreitar laços com outras empresas e pessoas que, assim como nós, também têm o objetivo de ajudar na construção de um mercado cripto seguro, consciente, sustentável e amigável ao público. E a segunda, podermos ver diariamente nossa parcela de contribuição para que isso ocorra.
Recebemos artigos de diversos especialistas do mercado, tais como advogados, professores, desenvolvedores, empreendedores e contadores, todos dispostos a compartilhar seus conhecimentos e contribuir para a construção e amadurecimento desse mercado que tanto valorizamos. Perceber que o CriptoJur também auxilia no sentido de fortalecer o posicionamento e projeção desses profissionais é outra grande recompensa.
O ecossistema Web3 tem como forte característica a cooperação, de modo que todos os envolvidos sejam beneficiados, e através do CriptoJur visualizamos isso de forma muito clara.
Na sua ótica, quais os principais desafios à proteção da propriedade intelectual via Blockchain?
AS: Acredito que como em qualquer outra área de aplicação, a tecnologia blockchain passa principalmente por desafios regulatórios e de compreensão, mas passos importantes estão sendo dados a partir do surgimento de leis e outras normas ao redor do mundo, e também com a utilização de novas ferramentas que estão melhorando significativamente a experiência do usuário e trazendo formas mais eficientes de armazenamento de arquivos, a exemplo da Account Abstraction e do IPFS, respectivamente.
Apesar dos desafios, eu prefiro focar mais nos benefícios que a tecnologia blockchain oferece para a proteção da propriedade intelectual, como o registro para produção de prova de anterioridade e o rastremento de utilização e reprodução de músicas e outras produções artísticas para fins de pagamento de royalties e validação de direitos autorais. Acredito que se direcionarmos nossa atenção e nossos esforços ao amadurecimento dessas soluções, de modo que sua aplicação seja cada vez mais ampla e acessível, ainda que os desafios existam, e sempre existirão, os ganhos serão exponencialmente maiores. Além disso, onde existem desafios, existem oportunidades para o desenvolvimento e criação de novas soluções que possam superá-los ou contorna-los.
Quais projetos ou criptomoedas alternativas você acredita terem potencial de crescimento significativo no futuro? E mais, pensando sobre as NFTs , você acredita que essa ideia de valor digital vai “pegar”?
AS: É difícil falar em projetos ou criptomoedas pois muitas vezes o token listado no mercado não reflete os atributos de valor do projeto subjacente, e mudanças ocorrem ao longo do tempo. Projetos ou tokens que hoje têm grande potencial podem se tornar irrelevantes num futuro próximo.
Por essa razão prefiro falar sobre segmentos dentro do mercado de criptoativos que considero promissores por estarem resolvendo problemas importantes que até então não tinham soluções eficazes. Nesse sentido, cito a tokenização de ativos, com destaque para os RWA (Real World Assets); a utilização de blockchain para acompanhamento da cadeia produtiva industrial, e também para atribuição de autenticidade e validação de documentos; a utilização de NFTs e outros padrões de tokens para resguardar direitos inerentes à propriedade intelectual; projetos que foquem na interoperabilidade entre a tecnologia blockchain e outras tecnologias, a exemplo da inteligência artificial, de modo a melhorar a experiência do usuário e reduzir a fricção na utilização, trazendo fluidez e intuitividade. Sobre a UX, pude ver um cuidado crescente das empresas com relação a essa questão nos últimos eventos dos quais participei, o que é muito bem-vindo.
Acredito muito na conjugação de interfaces com front-end Web 2 e back-end com estruturas Web 3. O usuário final, principalmente aquele que não é um estudioso da tecnologia, não quer se preocupar em entender conceitos ou ter que cumprir diversas etapas. Para nós que já estamos habituados é algo natural, mas para a maioria das pessoas não é. Elas só querem utilizar as ferramentas e fazerem o que precisam da forma mais direta possível.
Gosto de citar o Pix como exemplo, que teve todo esse sucesso e ampla adoção em tão pouco tempo principalmente porque a experiência do usuário é simples e agradável. As pessoas não querem saber sobre a estrutura existente por trás ou sobre como ela funciona. Elas só querem abrir o aplicativo, fazer pagamentos e transferir dinheiro.
Nós, estudiosos e profissionais do mercado, começamos a entender isso e na minha opinião os negócios que tiverem esse foco serão muito bem-sucedidos.
Sobre a ideia do NFT como valor digital, acredito que tudo depende dos benefícios oferecidos aos proprietários, à comunidade, e do quanto a tokenização representa um diferencial positivo para operacionalizar aquele negócio em comparação a outros métodos.
Todo aquele hype sobre os NFTs já passou e o mercado de criptoativos está em um momento de consolidação. Um NFT que não oferecer benefícios ou soluções reais, não vai vingar pelo simples fato de ser um NFT. Estamos muito mais maduros em relação a isso.
A segurança é uma questão crucial no espaço das criptomoedas, e tivemos casos de hackers e ataques a exchanges no passado. Mesmo sabendo que a tecnologia de nós (blockchain) é muito segura e eficaz, como você assegura que seus ativos digitais não sofrerão ataques cibernéticos de criminosos?
AS: A essência do ecossistema Web3 é a descentralização: o poder na mão do próprio usuário e a mitigação da necessidade de intermediários. Acredito que as pessoas que vêem valor nesse mercado a longo prazo precisam ter isso em mente e se capacitar para realizar a autocustódia dos seus ativos. Vale sempre lembrar a máxima de que exchange não é carteira.
Contudo, grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades. De nada adianta enviar os criptoativos para uma wallet própria e não tomar os cuidados necessários, como a guarda segura da seed phrase.
Além disso, precisamos sempre lembrar daqueles cuidados básicos de cyber-segurança: manter os dispositivos atualizados, utilizar um bom antivírus, criar senhas fortes e trocá-las periodicamente, utilizar verificação de duas etapas, não clicar em links ou acessar sites sem procedência, etc. Algo que também recomendo é ter um dispositivo exclusivo para realizar as operações, seja um computador ou smartphone, no qual você não fará mais nada além disso.
Como vê o avançar do DREX?
AS: Apesar de ter algumas ressalvas com relação à centralização, vejo com bons olhos. A participação de grandes players do mercado financeiro tradicional e a utilização da tecnologia blockchain a partir de uma iniciativa do Banco Central trazem uma validação importante para a Web 3.
Apesar de ser um estudioso do universo cripto, investir, empreender e atuar profissionalmente na área como advogado, não me considero um maximalista que defende a descentralização total a qualquer custo. Precisamos reconhecer que a expansão do mercado passa pela participação dos entes estatais e órgãos reguladores, além da existência de uma legislação clara e eficiente. É isso que dá segurança para o capital institucional entrar no jogo e, por consequência, leva o mercado a outros níveis, além de contribuir consideravelmente para o aumento da adoção da tecnologia pelo público em geral.
Ainda é cedo para dizer sobre o futuro, mas sem dúvidas a criação de uma CBDC como o DREX é um marco importante, além de inevitável.
As redes sociais podem ter um efeito sensacionalista. Até que ponto alguém pode ser responsabilizado por um ‘hype’ criado apenas com o intuito de gerar lucro para seu próprio projeto?
AS: Acredito que os influencers e produtores de conteúdo precisam ter consciência do poder da ferramenta que têm nas mãos, e de como um posicionamento ou opinião manifestada nas redes sociais pode refletir diretamente no comportamento dos seus seguidores. Não quero dizer que devam ficar em cima do muro ou evitarem se posicionar, mas que façam isso com responsabilidade, comunicando claramente os riscos envolvidos ao invés de apenas ressaltar possíveis vantagens, que em alguns casos podem nem se concretizar ou sequer existem.
Por outro lado, aproveitar-se de uma posição de autoridade ou do alcance nas mídias sociais para manipular informações em proveito próprio e influenciar a tomada de decisão das pessoas com base em fatos que não são reais, é algo totalmente reprovável, que pode gerar a responsabilização do influencer pelos danos eventualmente causados a terceiros. Infelizmente é uma prática comum em golpes de Pump and Dump, por exemplo.
Embora existam casos e casos, vejo que a maioria desses profissionais não age de má-fé. Todos estamos sujeitos a cometer erros na comunicação ou a sermos interpretados de maneira diferente do que gostaríamos em alguma situação. A respeito disso, contar com uma boa assessoria jurídica que desempenhe o papel de orientação, conscientização sobre os riscos e atue em prol da resolução de problemas que eventualmente surjam é uma maneira inteligente de se resguardar.

Qual foi o momento mais estranho ou inusitado que você já presenciou no mundo das criptomoedas?
AS: Acredito que não seja algo estranho ou inusitado, pois acaba acontecendo também em outros mercados de investimento, mas algo que ainda hoje me chama a atenção é o fato de o mercado de criptoativos ser extremamente sensível a boatos. As pessoas compram e vendem grandes volumes com base em notícias sem qualquer comprovação de veracidade. O fator psicológico é muito mais presente no mercado cripto em comparação a outros mercados, e seja por desconhecimento ou por outros fatores, isso mostra que há muito trabalho a ser feito por nós em prol de uma maior racionalização.
Se criptomoedas fossem personagens de desenhos animados, como você imaginaria suas personalidades?
AS: Pensando no bitcoin, acredito que ele é como o Papa-Léguas. Apesar dos inúmeros momentos difíceis, solavancos e vezes em que ele foi declarado como ‘’morto’’ ou ‘’capturado’’ pelos ‘’Coyotes’’, fazendo uma analogia com os personagens do desenho, ele sempre voltou a ficar em evidência ainda mais forte e esbanjando vitalidade haha.
Se o mercado de criptomoedas fosse uma festa, quais personagens famosos você imaginaria encontrando por lá?
AS: Olha, confesso que não sei bem como responder a essa, mas com certeza o bitcoin seria o DJ que comandaria a festa hahaha.
Se você pudesse trocar de lugar com Satoshi Nakamoto por um dia, o que você faria?
AS: Começaria me olhando no espelho e me parabenizando pelo baita trabalho feito, que mudou o mundo como conhecíamos para sempre e possibilitou o surgimento de diversas outras soluções extremamente úteis em segmentos muito além do financeiro. Não sei se ele estaria mais orgulhoso ou temeroso com o rumo que as coisas estão tomando, mas ele com certeza mudou para melhor a forma como nos relacionamentos não apenas com o dinheiro, mas também uns com os outros. Considero que o senso de cooperação e a criação de comunidades engajadas foram benefícios sociais muito significativos trazidos pela Web 3.
1 comentário
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